Até
o mais talentoso dos biógrafos com certeza encontraria dificuldade em fazer uma
análise profunda sobre a figura humana do ex-presidente da FNF, João Cláudio de
Vasconcelos Machado, ou simplesmente João Machado. Nascido a 11 de julho de
1914, João Machado faleceu aos 62 anos dia 20 de fevereiro de 1976, vítima de
derrame cerebral. Machado – ou doutor João, como era comumente chamado pelos
que lhe eram mais próximos. Extremamente simples, desprovido de qualquer
interesse material, João Machado tinha tudo para herdar da sua tia mãe – Maria
Amélia Machado – a viúva Machado, milhares de hectares de terra na Grande Natal.
Quando vivo, o comerciante Manoel Machado, marido
de d. Amélia adquiriu terrenos em quantidade, a ponto de ter dificuldade até em
administrá-los. A prova é que, herdeiro de tantas terras por ser filho adotivo
da viúva Machado (que não teve filhos) João pouco ligou em vigiar
essas terras. Perdeu-as quase todas, por usucapião, posse, etc. Sempre
comentaram – e o falecido corretor Humberto Pignataro confirmava, o hoje bairro
de Nova Descoberta era todo da viúva Machado, tia mãe de João.
Lentamente, o povo foi se apossando de um pedaço aqui, outro pedaço acolá. Hoje
é um bairro., que abriga até um cemitério.
Filho adotivo de um comerciante português muito
rico, com armazém de secos e molhados à rua Chile, na Ribeira, Machado
teve parte dos seus estudos feita na Inglaterra,que era o berço da cultura no
começo do século 20. Machado estudou em Londres, mas vivia excursionando em
Paris, Amsterdã, Berna, Viena. Apesar de viajar tanto pelo Velho
Mundo, preferiu fazer o curso de Direito no Rio de Janeiro. Para justificar os
estudos na Inglaterra, Machado recebeu diploma de “Chartered Accountant”, ou
seja, Perito em contabilidade, com isso satisfazendo um velho desejo do seu pai
adotivo, alto comerciante Manoel Machado.
Ao retornar da Europa, Machado fez os
estudos superiores no Rio de Janeiro, ampliou a amizade com o ex-presidente da
CBF e da Fifa,o brasileiro filho de belgas, João Havelange (Jean Marie de
Godefrois Havelange) e com o turco residente no Rio, Abrahin Tebet, tinha
trânsito livre na antiga CBD, as amizades lhe valeram bom emprego no Instituto
do Café. Na volta a Natal, continuou no escritório do IBC, passando-se depois
para o Fisco Estadual.
Aproximação de Machado ao futebol potiguar
Em 1954, dia 02/04 Machado era eleito e assumia a
presidência da antiga FND. Sua amizade estreita com Havelange lhe valeu
várias reeleições, chegando a 20 anos como presidente da federação, mudando apenas
o vice. Alguns deles foram José Rodrigues de Oliveira, Antônio
Castro, Leonardo Nogueira, Humberto Nesi, Capitão Veiga e Nilson Gomes.
João era relaxadíssimo, adepto da teoria do “lassez-faire” (deixa estar
pra ver como é que fica...), recebeu algumas críticas por isso. Sua vestimenta
diária era sua marca registrada.
Em 1972, confiando na amizade com Havelange,
autorizou o ABC FC a lançar três jogadores contra o Palmeiras, em jogo do
Campeonato Brasileiro, apesar de estarem em situação irregular: Rildo e Nilson,
punidos pelo STJD, e Marcílio não regularizado. A CBF puniu o ABC com dois anos
de suspensão, abrindo vaga para o América disputar o Brasileirão de 1973 no seu
lugar. Depois, a pena foi reduzida para um ano.
João Machado foi convidado e aceitou manter uma
coluna diária na TRIBUNA e um programa ao meio dia na rádio Cabugi, denominada
”O Curruchiado de João Machado”, onde gozava todo mundo. Com uma linguagem
chula, às vezes pornográfica, colocou apelido em muita gente. Uma das vítimas
foi um português que trabalhava na firma Santos & Cia. Ltda, vizinha à
TRIBUNA, O português era uma figura simpática, muito gordo, com dificuldade no
andar, João apelidou-o de “Desmantelo”. Machado foi presidente de honra durante
anos do Clube Atlético Potiguar – tanto que o clube ficou conhecido como “o
Atlético do dr. João”. Integrou também o Conselho Regional dos Desportos, ao
lado de amigos como Aluizio Menezes, Luiz G. M. Bezerra, Vicente Farache e
Procópio Filho, era benemérito da antiga CBD. Toda sua infância foi
vivida no casarão da viúva Machado, ao lado da pequenina igreja do
Rosário, centro da cidade.
Machado morreu aos 62 anos, vítima de um derrame
quando estava no banheiro. Levado às pressas para o hospital, após o AVC
aguardou por muito tempo a chegada de uma ambulância, que eram raras naquele
tempo, os médicos tudo fizeram para reanimá-lo, mas sem sucesso. Faleceu às 23h
do dia 20 de fevereiro de 1976, tem túmulo no Cemitério do Alecrim.
Deixou viúva d. Dinar, e vários filhos, sendo uma delas médica e outra,
enfermeira. Dono de tantas terras em Natal, João Machado viveu nos últimos anos
como funcionário do estado, sua tia mãe Amélia, já bem velhinha. Segundo
Woden Madruga, em uma bonita crônica na sua coluna “Jornal de WM” no dia
seguinte à morte de João, o grande “Joca Macho” (como também era chamado pelos
amigos) morreu relativamente pobre.
FONTE – TRIBUNA DO NORTE